A rendibilidade do trabalho escravo e o efeito “tempo” – uma hipótese de explicação

Maciel Santos

Resumo


A rendibilidade do trabalho escravo num mercado capitalista começou a ser discutida ainda antes das abolições. Os últimos 50 anos do problema foram dominados, especialmente nos EUA, pela validação empírica de modelos econométricos cujos pressupostos foram relativamente consensuais. Com base na teoria do valortrabalho, isto é, na identifi cação entre unidades de valor e de tempo de trabalho, pode colocar-se a hipótese de terem sido negligenciadas uma dinâmica e uma contradição, ambas estruturais na utilização do trabalho escravo.
A dinâmica baseia-se no carácter unilateral que tem o valor produzido e o valor redistribuído na relação esclavagista: ambos são controlados pelo capital. Dados os limites abertos da duração e da intensidade de trabalho (ao contrário do que acontece no emprego de assalariados no  capitalismo desenvolvido), os custos de manutenção fazem variar o valor produzido e o tempo durante o qual o trabalhador está disponível. A contradição resulta de esta variação se associar a uma outra particularidade desta relação: a de os trabalhadores serem ao mesmo tempo elementos de capital fixo, cuja amortização também se faz no tempo. A intensificação do tempo de utilização, característica do trabalho escravo, implica a desvalorização do activo; pode então defi nir-se matematicamente qual é, em função do custo de capital fixo e da taxa de mais-valia, o tempo maximizante para cada caso de utilização de escravos. A demonstração de que existe, para todos os casos de trabalho escravo, um momento optimizante a partir do qual a taxa de lucro necessariamente desce, pode contribuir – especialmente se adicionarem ao modelo os efeitos de renda que aqui se abstraíram - para uma melhor compreensão de fenómenos históricos como as manumissões, abolições ou repatriamentos.

Palavras-chave: trabalho escravo, rentabilidade do trabalho escravo, capital fixo, abolições


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