África do Sudeste nos relatos de naufrágios do século XVI – Para uma compreensão genealógica das categorias de representação geográfica e antropológica

Glória de Santana Paula

Resumo


A problematização dos espaços geográficos e das representações antropológicas que lhes estão associadas, quando empreendida na longa duração, permite-nos compreender muitos conceitos e imagens numa perspetiva genealógica.
Neste sentido, propomo-nos refletir sobre as categorias de representação geográfica e antropológica, a partir de textos sobre naufrágios de navios portugueses ocorridos no sudeste africano, durante o século XVI. O espaço geográfico constituído pela Costa do Cabo da Boa Esperança, Costa de Cafres, Terra de Cafres, posteriormente designado Cafraria, afirmava-se nos discursos da anti-epopeia como um locus estranho, oponente e marginal face aos referentes culturais do ocidente europeu, ao mesmo tempo que a sobrevivência de muitas centenas de náufragos dependia do “agasalho” dos povos classificados como “cafres” e “bárbaros”. Perceções,
conceitos, imagens e representações da África do Sudeste, cristalizados na literatura de naufrágios, foram replicados em sistemas de classificação
antropológica que haviam de persistir e modelar diferentes paradigmas até aos tempos coloniais e a cuja desconstrução histórica ainda assistimos.


Palavras-chave: Cafraria, Cafres, indígenas, representações antropológicas dos africanos.


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