TRÊS MODOS DE VISÃO: CORPORAL, ESPIRITUAL E INTELECTUAL. APRESENTAÇÃO E TRADUÇÃO DO LIVRO XII DO COMENTÁRIO LITERAL AO LIVRO DO GÉNESIS EM DOZE LIVROS DE AGOSTINHO DE HIPONA

Paula Oliveira e Silva

Resumo


No conjunto da obra de Agostinho de Hipona identificam-se três comentários ao Livro do Génesis, escritos em datas diferentes e com conteúdos e objetivos próximos, mas não idênticos. O primeiro comentário, De genesi contra manicheos (388) é um escrito do período caracterizado pela proliferação de escritos de Agostinho contra a gnose maniqueísta. Neste caso, Agostinho pretende confrontar os maniqueus denunciando uma exegese materialista e antropomórfica da Escritura e as contradições que ela encerra. O segundo comentário, De genesi ad litteram opus imperfectum (393), insiste na tentativa de interpretação literal do texto bíblico do Génesis, mas apenas abrange os três primeiros capítulos desse livro sagrado. Agostinho está convicto de que é possível uma interpretação literal, pois ela deriva do facto de a criação divina ser um ato histórico. Deus cria no tempo e inaugura a história das criaturas. O Génesis relata o início da história do mundo e da humanidade e, portanto, pode ser descodificado e interpretado a essa luz. O último e definitivo ensaio de comentário literal ao GénesisDe genesi ad litteram duodecim libri (401-414) – ocupará um longo período da vida de Agostinho e será redigido em simultâneo com muitas outras obras, das quais destacamos, por completude de doutrinas, as duas grandes obras De trinitate e De ciuitate dei. Toda esta atividade é compaginada com o labor episcopal, a intensa troca epistolar e os debates doutrinais, por exemplo, com os donatistas, também geradores de desacatos por vezes violentos e de perturbações da ordem social.


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