Inovação, tecnologia e gestão de recursos mínimos na sociedade rural de Santiago de Cabo Verde
Resumo
A introdução de novas culturas e técnicas no sistema produtivo camponês depende não só dos constrangimentos ambientais (precipitação, relevo e solos) mas ainda do modo como os agricultores combinam crenças pessoais como os ensinamentos dos técnicos numa base de produção autónoma de conhecimento. Qualquer introdução de um produto inovador no sistema
de sequeiro estará condicionado pela sua característica de produzir alimento para os animais. A inglória introdução do feijão “congo” nos sistemas de cultivo devido às adversidades do ambiente natural é acompanhada com uma apreciação positiva da espécie por parte dos camponeses que sobrevalorizam sempre a “plasticidade” económica da espécie (produzir alimentos, lenha, conservação do solo e não competir com outras espécies) em torno da capacidade de produzir alimento para os animais. Enquanto produtor de saber autónomo o agricultor assume os constrangimentos do ambiente de forma objectiva mas produz uma leitura subjectiva, em função de si, na compreensão do ambiente como um todo pela simples razão que integra selectivamente os elementos desse conhecimento. O processo de inovação encontra ainda outros factores de suma importância como a acessibilidade aos factores de produção no que concerne aos intervalos de rega, às peças das máquinas e dos dispositivos, aos “medicamentos” e ao crédito. A implantação do sistema “gotaa- gota” e da produção de hortícolas junto dos agricultores mais novos relaciona-se com o facto destes aderirem mais facilmente às propostas dos extensionistas e técnicos agrícolas e consequentemente diluírem mais as crenças dos mais velhos que são ao mesmo tempo argumentos de conservação do poder/saber instituído no sistema tradicional de alagamento associado ao complexo do “trapiche”. Estes processos englobam recuos e avanços, “involuções” que não são mais do que o estado do sistema num momento determinado, na actualidade da acção dos camponeses como gestores de recursos mínimos.
Palavras - chave: inovação, micro-irrigação, gestão de recursos mínimos.
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