Outros homens, outros tempos e outros lugares : os livros dos outros e os outros nos livros

Isabel Leite

Resumo


Entre nós e os outros começa por haver insuperáveis diferenças, já que não há duas pessoas iguais. Séculos de leituras repetidas provam bem que os mesmos livros atravessam os tempos e deixam marcas diversas em cada leitor, porque quem escreve e quem lê jamais viverá separado. Esses outros, que não nós, viajaram noutros tempos e habitaram outros lugares que, apesar de não serem nossos, nossos se tornaram. Tal aconteceu, naturalmente, com Saint-John Perse, Italo Calvino, Roald Dahl, Níkos Kazantzákis e Victor Hugo, entre tantos outros. O que podem ter de comum consagrados nomes da literatura, uns e outros em busca permanente, multiplicando-se em personagens? Procuram o quê? Talvez a razão da existência… O que é que Hermann Hesse e Romain Gary, por exemplo, entendiam poderem ser a felicidade e o amor? O poder da palavra escrita, registada pela mão de todos esses outros a quem tanto devemos, encarregou-se de eliminar fronteiras e de fazer de cada um de nós um outro, se não mesmo o outro. A ideia subjacente a este texto tem, sobretudo, como propósito suscitar uma reflexão sobre o alcance da imaginação criadora que nos faz penetrar em bibliotecas irreais,ora cativantes,ora assustadoras,porém inesquecíveis.

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