Resgatar a memória

Isabel Pereira Leite

Resumo


Sem livros, o Mundo não era nada. Nada seria, na medida em que é certo que praticamente tudo devemos a quem por cá passou antes de nós. E de quem passou, o que ficou? Naturalmente, o registo da sua passagem; a memória da sua existência em múltiplos registos. O anonimato não existe, porque a memória se encarrega de integrar o testemunho de cada indivíduo num outro conceito – o colectivo. É do contributo pessoal que vive o colectivo – da conjugação de vidas sem nome e de nomes que para sempre serão lembrados. Nos livros, tanto os que desapareceram, como os que preservamos, está a Memória do Mundo. Dos primeiros, dão notícia os segundos. Destes, colhemos cada palavra para que não venham a cair no esquecimento. Ninguém escreve para ser esquecido. Não se daria a tal, se não entendesse que o que quer transmitir é importante e deve chegar ao futuro. É por isso mesmo que os leitores são fulcrais. São eles que transportam a memória e se encarregam de a resgatar a todo o momento. A memória, qualidade da mente humana, mecanismo complexo associado a epítetos vários, eles próprios passíveis de análise, é o que os livros carregam; têm vindo a carregar, ao longo de milénios, mesmo que aos primeiros «livros» não nos possamos referir deste modo. Múltiplos têm sido os suportes em que o registo «escrito» tem sido feito. Perenidade e destruição, a par disso, têm coincidido, ora promovendo a memória, ora concorrendo para que desapareça. Porém, continuamos a viver entre livros; entre  livros que falam de livros, que falam dos homens do passado e do presente; livros que, já hoje, são o futuro.

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