A descrição do vocalismo átono quinhentista: linhas e entrelinhas nos textos metalinguísticos coevos
Resumo
Com base no tratamento informático dos textos de gramáticos e ortógrafos quinhentistas, analisam-se as descrições de fones e as relações entre estas e factos sincrónicos e diacrónicos igualmente descritos; as ocorrências das palavras seleccionadas como objecto de descrição, ou ilustração dos factos descritos são comparadas com as ocorrências não metalinguísticas no mesmo autor e em diferentes autores. Sendo a elevação de <a> átono, o único ponto que é incontroverso na matéria, dada a clareza da descrição do primeiro gramático, Fernão d’Oliveira, a informação permite testar a fiabilidade dos outros testemunhos. A elevação do restante vocalismo átono continua a ser um tema em debate que apresenta uma vasta área de questões comuns, começando pela cronologia. Tendo em conta que o contributo mais importante é o de Fernão d’Oliveira, analisaram-se os conceitos básicos («letra», [vogal] «grande» e «pequena»), definiu-se a perspectiva dominante como sendo a da escrita, constatou-se a maior incidência das descrições nos fones representados por <e> e <i>, <o> e <u>, em consonância com as afirmações da proximidade entre eles, e observaram-se contrastes entre a doutrina expressa e a informação contida nas palavras-testemunho, bem como entre as grafias preconizadas e as grafias genuínas do Autor. A carência de uma terminologia adequada, evidente ainda em Soares Barbosa (1822), projecta-se em dificuldades de conceitualização, também patentes nos restantes metalinguistas, cuja informação complementar é sintetizada. A variação <e> ~ <i> e <o> ~ <u> origina um número elevado de referências; as interpretações e relacionações nem sempre adequadas, não deixam por isso de ser elucidativas, quando comparadas com mudanças por assimilação, dissimilação e analogia, quer ocorridas no passado quer em curso na época em estudo. No conjunto, a exploração das descrições conduz parcialmente à caracterização, no plano do vocalismo átono, do estado de língua sobre que virá a desenvolver-se o movimento de relatinização.
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ISSN: 1646-6195