O rosto misterioso : memória material num objecto anónimo de uma sacerdotisa de Amon (Ataúde A.4 da Sociedade de Geografia de Lisboa)
Resumo
Um objecto anónimo é tendencialmente encarado como um objecto desprovido de memória. No caso do ataúde antropomórfico pertencente a uma sacerdotisa egípcia de Amon contemporânea da XXI dinastia, a identidade da sua proprietária perdeu-se para sempre. No entanto, como objecto, o mesmo ataúde reflecte uma longa tradição funerária constituindo um verdadeiro repositório de uma memória material que, na época em que foi construído, já se afigurava milenar. Cada um dos seus elementos foi integrado no ataúde de acordo com uma codificação diríamos «filogénica», na medida em que, ao se inscrever no objecto, recapitula, ao longo do seu processo de produção, a evolução material dos próprios ataúdes, como um todo. No entanto, dada a importância da cultura material funerária no antigo Egipto, este processo dificilmente poderia ser estático e, cada novo objecto é sempre uma oportunidade de uma reactualização com as possibilidades de inovação que lhes estão subjacentes. Encarado nesta perspectiva, o ataúde anónimo A4 da Sociedade de Geografia de Lisboa é um objecto de memória que contém em si uma memória material milenar que nos propomos neste artigo recuperar.
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